sábado, 2 de agosto de 2008

Crítica: Estômago

É fácil ser conquistado pelo estômago. Por ele, você também morre. Estômago (Brasil, 2007), primeiro filme do diretor Marcos Jorge, fala um pouco sobre isso, ao mesmo tempo em que faz um retrato, em forma de sátira, dessa sociedade antropofágica, onde a sobrevivência reside com os que não hesitam em devorá-la.

O filme segue a trajetória de Raimundo Nonato (João Miguel). Nordestino, recém-chegado ao Sudeste em busca de trabalho e uma vida melhor. Num botequim de subúrbio ele pede água e um salgado, tendo que lavar os pratos para pagar a despesa. Termina contratado, ou melhor, explorado pelo dono do local que, no lugar de pagamento, oferece comida e dormida, “sem benefícios”.

Ainda companhamos Nonato em outra linha temporal chegando a uma prisão e pensando sobre o nome que deve adotar para não passar maus bocados por lá. “Nonato Canivete”, no seu entender, pode impor respeito. Está enganado. Seus dotes culinários serão os responsáveis por sua ascensão na cadeia, mesmo que isso represente, futuramente, “dormir no beliche de cima”.

Ingênuo, Raimundo Nonato é desses tipos que não faz mal a uma mosca. Sua dedicação ao trabalho no bar faz com que ele seja contratado como cozinheiro num refinado restaurante da região. Aprende a escolher os melhores produtos e a apreciar vinhos e gorgonzola. Nonato também nutre um amor mal-correspondido pela prostituta Iria (Fabíula Nascimento), que é obcecada por comida.

Inebriado pela inspirada trilha musical, Estômago, até pelo tema, lembra o amor pela comida demonstrado na animação Ratatouille (2007) com a genial esquisitice dos filmes de humor negro.

Agradável e meio estranho de se ver, Estômago explica, afinal, como um cara talentoso e, aparentemente, de tão boa índole foi parar na cadeia. Contudo, essa acaba sendo uma das explicações do filme, não sua idéia principal, que é balizar as diversas camadas que compõem nossa personalidade a partir dos ditames do estômago.

Belo exemplo do cinema independente nacional.

Cotação 9,0

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