Um filme como Austrália, do diretor Baz Luhrman, nos dá uma ou outra ideia a respeito do poder da imagem cinematográfica.
O longa é simplesmente fascinante. Planos longos, mostrando toda a árida paisagem australiana, momentos divinamente cinematográficos, exposição de luz que dá um realce todo especial ao filme e uma trilha bem composta. É um verdadeiro colírio para a vista.
Apesar de toda sua beleza, Austrália não foi bem nas bilheterias mundiais. Nicole Kidman, protagonista, chegou a fazer declarações pela imprensa deixando expressar sua insatisfação com a própria atuação.
O fato é que Austrália emperra na narrativa pálida, em contradição com as lindas imagens que vemos no decorrer do filme.
Luhrman já havia provado sua capacidade de hipnotizar plateias no musical pós-moderno Moulin Rouge, misturando cores, estilo, referências pop e acrescentando um toque de esquizofrenia que reforçava esse sentimento de encanto.
Entretando, além do ímã sensorial, o filme equilibrava, sabiamente, amor e tragédia, construindo uma história realmente atrativa.
Não é o que ocorre em Austrália. As imagens estão lá. Praticamente cada quadro é uma pintura, contudo faltam ingredientes essenciais, como a química entre o casal protagonista (Hugh Jackman e Kidman) e um sentido forte de história.
É percepetível a tentativa do diretor Luhrman de criar um épico à moda antiga, utilizando as paisagens e tradições daquele país, coisa que, infelizmente, não funciona por transmitir uma sensação de "forçação de barra".
Discorrer sobre o poder da imagem é pensar na idiossincrasia cinematógrafica. A experiência única, de ver um filme no cinema, tem disso. Utilizamos os sentidos e somos, de certa forma, enfeitiçados pelos truques da sétima arte.
Filmes como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Jean Pierre Jeunet) constróem uma afinidade tão sincera com o público que chega a ser possível vivenciar aquele par de horas como se fosse real.
Do ponto de vista narrativo, não é o que acontece em Austrália. Se o alvo do filme fosse o espectador, certamente, a história sairia com bem menos arestas.
Texto publicado na Revista Papangu
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