Antes de fazer uma análise mais aprofundada de Confissões de Virgulino Lampião – A Saga do Seridó (2014) é preciso ressaltar o esforço de um grupo de seridoenses que decidiu enveredar pela arte do “fazer cinema”.
Só o fato de querer realizar um filme, saindo da zona de conforto de apenas degustar o prato alheio, já é salutar e merece reconhecimento, tendo em vista a própria falta de tradição regional na produção cinematográfica.
Com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, estudantes do 3º período do curso de Direito da UFRN arregaçaram as mangas para contar a história do cangaceiro mais famoso do Nordeste sob a perspectiva do julgamento divino do personagem após sua morte, numa clara referência ao “Auto da Compadecida”, do escritor Ariano Suassuna.
O filme é fruto de um estudo da obra filosófica “Confissões” de Santo Agostinho, ministrada pelo professor Marcus Vinícius, que dirige o filme que também tem a co-direção do jornalista Wanderley Filho (TV Seridó).
Quando a trama começa, vemos imagens típicas do sertão, com a fauna e flora regionais em destaque.Policiais planejam um ataque final contra o bando de Lampião. Maria Bonita tem um pressentimento de que algo ruim possa vir a acontecer. Não demora, o grupo é surpreendido e morto pela polícia.
A sequência utiliza efeitos especiais “toscos” com o espirro de sangue (ecos do Kill Bill de Tarantino, Sr. editor, Jefferson Dutra?) que dão um ar trash a esse combate.
A seguir, temos imagens de Virgulino entrando numa igreja. Antes de ser julgado ele clama pela intercessão de Padre Cícero confrontado pelo Diabo (que surge envolto à trilha pesada e ar propositalmente caricatural). E é desse embate que surge uma questão que fica martelando na cabeça. Afinal, Lampião seria apenas uma vítima da chamada “Lei do Sertão”?
É essa dúvida que fica bem clara, sobretudo nas cenas em flash back que mostram a miséria que Lampião teve que encarar na infância, o assassinato do seu pai e outras mazelas que o teriam colocado no mundo do crime.
Isso é reforçado quando o personagem revela que não concordava com certas decisões tomadas pelo seu bando e, até mesmo, na forma “honrosa” como os cangaceiros eram recepcionados na cidade.
Um Robin Hood sertanejo que tira dos ricos para dar aos pobres? É essa a impressão que temos ao ver Confissões de Virgulino Lampião – A Saga do Seridó.
Seguindo essa linha de pensamento, o filme apresenta uma tese que divide opiniões, tomando partido pela redenção de Virgulino. Seria uma crítica ao status quo dominante na região, onde o coronelismo, mesmo que disfarçado, ainda impera de uma forma ou de outra?
LANÇAMENTO
As Confissões de Virgulino Lampião - A Saga do Seridó será lançado nesta quinta-feira (13), às 19 horas, no Auditório do Fórum de Caicó. Entrada gratuita. A seguir, o filme será disponibilizado no Youtube.
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