quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Antes do Pôr do Sol

Uma dúvida pairava no ar com o final de Antes do Amanhecer (Before Sunrise, EUA, 94): será que Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) voltariam a se encontrar seis meses depois em Viena, na Áustria, como ficou combinado?

A resposta para esse questionamento está em Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, EUA, 04), onde eles se reencontram nove anos depois. O acaso os uniu. O destino os separou. E, agora, Paris os une novamente. Ironicamente, nas mesmas circunstâncias de antes: com pouco tempo para passarem juntos.

Esses dois filmes de Richard Linklater são gemas cultuadas pelos cinéfilos que se encantam, até hoje, com  suas histórias. Os filmes promovem as belezas da Europa com boas pitadas de discussões acaloradas sobre ideologia, filosofia e visões de mundo. 

O que levou Jesse a capital da França foi o lançamento do seu livro, que fala justamente de como ele conheceu uma garota, passearam, conversaram e não se viram mais. Enquanto concede uma entrevista, ele percebe que de longe Celine o observa. Eles, naturalmente, combinam colocar o papo em dia. 

A iniciativa de dar uma continuidade a Antes do Amanhecer torna-se interessante ao entendermos que a vida é feita de percepções que contribuem para a construção da nossa personalidade. O amadurecimento, muitas vezes, nos enrijece e nos faz, até, descrentes. Quantos ensamentos, experiências de vida, relacionamentos, alegrias e frustrações fizeram parte de suas vidas, nesse período? Vê-los novamente é se deixar levar por uma sensação de nostalgia e de como tanta coisa mudou, ao nosso redor. O que mudou de lá para cá, em Jesse, Celine, e em nós mesmos? 

Sob essa ótica, é fácil notar como o tempo agiu em Celine, que surge como uma mulher marcada por fraturas de relações fracassadas, sendo a prova de que, por mais que se tente enganar, são naqueles instantes únicos de liberdade que nos desnudamos de nossos medos, culpas e decepções. Em Jesse, observamos um homem preso às conveniências de uma relação sem risos e espontaneidade.

Nesses dois filmes dirigidos por Linklater o que chama bastante a atenção é a tridimensionalidade dos seus personagens. Se hoje a prática comum do cinema é se amparar numa visão unidimensional, onde seres humanos se prendem a arquétipos rasos, jamais ultrapassando a condição de clichês móveis, é a ação de Linklater e as atuações vívidas de Ethan e Julie que faz desses personagens duas figuras críveis, num projeto franco e preocupado com a arte de fazer cinema, genuinamente, humano. E um novo encontro de Jesse e Celine já está confirmado!

Comentário publicado na Revista Papangu

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