Há filmes que mostram, com esmerada maestria, a insanidade. Clube da Luta (Fight Club, EUA, 99) pertence a essa categoria. O longa-metragem de David Fincher comprovava ser possível arrancar dos porões norte-americanos uma certa loucura que parecia escondida pelo conservadorismo vigente daquele país.
Apesar da extravagância de seus conceitos, que fortaleciam a degradação do homem perante as exigências da sociedade moderna, a película conseguia ser determinante ao mostrar a angústia de viver no paradoxo Dr. Jekyl/Mr.Hyde.
Apesar da extravagância de seus conceitos, que fortaleciam a degradação do homem perante as exigências da sociedade moderna, a película conseguia ser determinante ao mostrar a angústia de viver no paradoxo Dr. Jekyl/Mr.Hyde.
Já em Spider - Desafie Sua Mente (Spider, Can/Ing, 2002) , o diretor David Cronemberg invade a mente do seu protagonista (Ralph Fiennes, de O Jardineiro Fiel) em busca de respostas para seus conflitos internos. Com uma narrativa seca dando enfoque ao que seria a distorção da realidade, acompanhamos o seu ponto-de-vista para o que teria provocado a destruição de sua mente. Cronemberg utiliza o roteiro de tal maneira que o público passava a enxergar pelos olhos do personagem, percebendo com afinco essa problemática.
Neste O Operário (The Machinist, Esp, 2004), temos um exemplo ainda mais pertinente da falência da razão. Trevor Heznik (Christiam Bale) não dorme há cerca de um ano. Olheiras profundas e uma magreza surreal completam seu estado físico. Aparentemente, seus parceiros de trabalho notam que algo de estranho está acontecendo com ele, contudo, seu caráter anti-social termina por afastar essas preocupações. Isolado, Heznik jamais permitiria a intromissão de elementos de fora em seus anseios e perturbações.
Um desleixo, de sua parte, acaba provocando um acidente que faz um dos operários, do local em que ele trabalha, perder o braço. O que acaba servindo de agravante para a sua situação. Heznik, culpado, procura explicações na distração provocada por um funcionário que acabava de ser contratado. Para sua surpresa, esse homem se tratava de uma imagem refletida do seu inconsciente.
A partir desse trauma, qualquer resquício de razão que ainda teimava em resistir dentro de sua cabeça acabava de ser exterminado daquela existência. Heznik já não podia distinguir realidade de ficção. É tanto que, uma obsessão aguda em procurar a figura inexistente toma conta do seu cotidiano. Instala-se um quadro psicótico que o público parece sentir na própria pele. Fatos de sua vida vão se misturando como peças de um quebra-cabeça e, ao passar da narrativa, percebemos que há um complô de idéias borbulhando entre uma explicação plausível.
O conflito de O Operário se formaliza na medida em que o próprio Heznik não crê estar enfrentando o problema da esquizofrenia. Como aceitar estar enlouquecendo? Essa dúvida ganha força no sentido em que Heznik descobre não ter mais escapatória. Seu destino é a loucura. Sua realidade é a ilusão. O que apenas robustece uma certa angústia perpassada por filmes dessa estirpe: o medo de perder a consciência.
Comentário publicado na Revista Papangu
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