domingo, 27 de abril de 2014

Crítica: A Vida Secreta das Palavras

O que se esconde nos recônditos da alma nem sempre é visível, com palavras ou atitudes. A Vida Secreta das Palavras (Espanha, 2005) fala a respeito dessa premissa. Sobre como nosso íntimo se oculta em camadas de introversão, que podem ser provocadas por fortes traumas sofridos no passado.

Como objeto de estudo, esse filme de Isabel Coixet observa o entediante cotidiano de Hannah (Sarah Polley). Excessivamente tímida, ela trabalha numa indústria têxtil. Pelo olhar evasivo, sem ambições ou necessidades de mudança, manter aquele status quo parece ser o suficiente para ela.

Detalhes, sinalizados pela diretora no início da narrativa, mostram seu problema de surdez quando, discretamente, ela desliga o aparelho auditivo para se desligar do universo a sua volta. Isolada, Hannah não fala, não ouve, não procura interagir com o mundo.

Convidada a tirar férias pelos diretores da empresa, Hannah se dirige a um povoado, próximo a uma plataforma petrolífera. Por lá, ela toma conhecimento que eles precisam de uma enfermeira para cuidar de Josef (Tim Robbins). Recentemente, ele sofreu grave acidente com queimaduras e ainda é acometido por uma cegueira temporária.

Cuidar desse enfermo será a forma da protagonista enfrentar a distância de sua rotina. A plataforma, ou “o limbo” como reforça um dos trabalhadores daquela estação, palco do restante da história, revelará as nuances que provocaram a distância da personagem e sua possível redenção.

Nesse universo paralelo, onde a vista é um mar infinito, comprovamos que cada uma daquelas pessoas responde de maneira idiossincrática ao apelo do meio em que vive. O contato diário com Josef, de pronto profissional, logo permite uma intimidade que Hannah não experimentava ter com outra pessoa há tempos e que, só é aceita, pelo fato dele não poder enxergá-la.

A Vida Secreta das Palavras em alguns momentos lembra Sobre Meninos e Lobos (2003) de Clint Eastwood. Ambos os filmes, tratam de pessoas traumatizadas pelos percalços da vida e que, por algum catalisador externo, precisam lidar novamente com os velhos problemas.

No filme de Isabel Coixet, o grande dilema é a capacidade de superação de uma personagem, envergada pelas marcas visíveis da pele e, invisíveis, da alma.

Avaliação: ★1/2

Crítica publicada no Blog de Suerda Medeiros

Nenhum comentário: