sexta-feira, 9 de julho de 2010

O remorso do Oriente

Culpa é um sentimento intimamente ligado às produções de terror. Essa percepção se fortalece ainda mais com os filmes vindos do oriente, onde culpa e purgação são temas recorrentes daquela cinematografia. Ou “O Chamado”, “O Grito” e “Água Negra” não são, essencialmente, filmes de pessoas abandonadas submersas em traumas alheios?

Este“Assombração” dos diretores gêmeos Pang Brothers expõe bem essa teoria. No filme somos apresentados a uma escritora (Angelica Lee) que não consegue dar continuidade a sua mais nova obra. Seu best-seller anterior (um romance) lhe proporcionou pressão suficiente por parte do público, até por revelar que os fatos narrados no livro eram de cunho estritamente pessoal.
O retorno de um antigo affair serve para completar o clima de neurose vivenciado, naquele momento, pela personagem.

Aos poucos, sussurros, vultos e a aspiração lúgubre de sua nova obra passam a misturar realidade e imaginação num mesmo plano. O recurso da metalinguagem permite que os seus escritos saiam, aos poucos, do papel, como se aquela história estivesse ganhando vida enquanto era escrita. A dúvida da escritora é: absorver-se da trama ou abandona-la? Pelo ponto de vista de Angelica Lee é possível acreditar na veracidade daqueles fatos e, ao mesmo tempo, discordar de sua lucidez. E é essa confusão que torna “Assombração” uma trama psicologicamente mórbida.

Ao passo em que a personagem aceita enfrentar a interiorização dos seus medos, conhecemos suas particularidades. Ao adentrar num mundo estranho, psicótico, temos a impressão de que tudo parece desmoronar. E, literalmente, é isso que acontece. Os Pang Brothers abordam vários cenários onde a morte requer algum significado. E, naquele mundo, de onde a escritora consegue extrair vida, descobrimos o real sentido dos seus pesadelos: o remorso recôndito que atormenta sua alma.

Com seu teor fantasmagórico-traumático, “Assombração” torna-se um bom exemplo de filme intimista. Há o medo, representado por criaturas estranhas e essa já citada sensação de culpa. Os Pang Brothers aproveitam para criar um visual estiloso que, algumas vezes impressiona, em outras demonstra artificialidade. Contudo por se configurar enquanto “sonho”, atende às expectativas do longa-metragem de um tempo passado.

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