Vi "Albergue Espanhol" em janeiro de 2005. Na época, lembro-me bem, tive aquela sensação de nostalgia de quem acabava de sair de uma "república". O filme, entre outras coisas, falava sobre esse tema e mostrava a vida de estudantes que dividem casa ou apartamento.
Em "Albergue Espanhol" a história se torna fascinante, pois existiam pessoas de várias nacionalidades da Europa morando num mesmo local. Era uma oportunidade de ver como é que funcionava, metaforicamente, essa tal "União Européia".
Surpreso fiquei ao saber da existência de uma sequência para "Albergue Espanhol". Uma continuação? Para quê? Uma história, por si só, era o bastante! Cai meio naquele conceito de Cinemão Americano onde tudo que chama a atenção vem em Trilogias.
Eis que chegamos a este "Bonecas Russas", que dá continuidade à história cinco anos após os acontecimentos de "Albergue Espanhol". A trama se concentra em Javier (Romain Duris), escritor de livros românticos e biografias de neo-celebridades. Beirando os trinta anos, o encontramos escrevendo sobre a sua vida e se questionando sobre o que ele fez de importante até aquele instante.
Parece conjunto de reflexões de quem já chegou numa certa idade e descobriu que os sonhos da adolescência ainda não foram realizados. E, se ainda há esperanças de concretizá-los, o tempo é pouco.
Mas esse conceito não se firma ao longo da projeção. Bastante movimentando, "Bonecas Russas" embasa essa tese, porém prefere gastar seus fotogramas nas aventuras amorosas dos personagens e nas suas consequentes decepções, idas e vindas.
Ao final de "Bonecas Russas", lembrei-me dos filmes de Richard Linklater (Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol) que exibiam propostas parecidas. O primeiro mostrava o encontro entre um casal, jovens e cheios de energia, e alguns anos depois (na sequência) o reencontro, com as cicatrizes da vida bem expostas.
Mais reflexivo, esses dois longas possuíam uma essência das mais verdadeiras, pois quem tinha visto Antes do Amanhecer, dificilmente não iria se identificar com Antes do Pôr-do-Sol. A vida passa. Nossas expectativas mudam. E esses dois filmes demonstravam justamente esse processo de maturidade.
De "Albergue Espanhol" para "Bonecas Russas" há também um direcionamento nesse sentido, mas de maneira tímida, se compararmos aos projetos de Linklater.
Contudo, "Bonecas Russas" poderia ser um filme melhor. Não que seja ruim. A linguagem visual é moderna, há conexão entre os personagens e várias situações da vida de qualquer pessoa e, o melhor, o tempo não demora a passar. O seu parecer negativo se dá apenas por ser veículo mal utilizado por quem queria fazer apenas uma continuação. Sobram os belos cenários europeus: Londres, Paris, São Peterburgo, Moscou...
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