domingo, 20 de fevereiro de 2011

Relembrando: Quero Ser John Malkovich

"Enfeiar" Cameron Diz foi apenas uma das ousadias de Spike Jonze em "Quero Ser John Malkovich". Alguns podem até estranhar a atitude do diretor por, na época, não aproveitar o sex-appeal da atriz como chamariz para a bilheteria do filme.

Não poderia. O filme discutia, justamente, a ilusão provocada pelo mundo das celebridades. E quebrar o paradigma da beleza de Diaz era um importante apetrecho da história.
Só isso já mostra o desapego de "Quero Ser John Malkovich" da lógica do cinema de mercado.

Na história, o personagem vivido por John Cusack trabalha com marionetes. Para sobreviver, ele arruma um emprego como arquivista no sétimo andar e meio (!?) de um prédio. Lá, conhece e se apaixona por Maxine (Catharine Keener).

Certo dia,  ele encontra um buraco por trás da mesa da sua sala. E, ao investigar até onde o mesmo vai dar,  é sugado para dentro da cabeça do ator John Malkovich (!!!). Quinze minutos depois, é arremessado na estrada. A bizarrice do acontecido não o abala. Na verdade, ele enxerga as possibilidades financeiras do "negócio". Assim, qualquer um pode "ser" ou "se ver" como Malkovich pela módica quantia de duzentos dólares.

Para embaralhar a trama, Lotte (Diaz), sua esposa, utiliza o portal e descobre, enfim, seu "eu interior". E pelo corpo de Malkovich tem um tórrido romance com Maxine. A seguir, o próprio Malkovich percebe que algo de estranho está acontecendo na sua vida e, ele mesmo, entra pelo portal, caindo num mundo onde tudo e todos são John Malkovich.

Com um roteiro totalmente estapafúrdio, "Quero Ser John Malkovich" retrata bem a indústria das celebridades. As pessoas pagam pelos seus quinze minutos de fama e enfrentam filas intermináveis para isso só pelo prazer de desfrutar da vida dos "famosos", que seja por um breve período de tempo. Essa necessidade de aparecer e fazer parte do sistema é tratada como um vício. Em tempos de "Big Brother", o filme faz ainda mais sentido.

O processo de massificação é criticado no filme, bem como o fato do ser humano estar perdendo a sua individualidade, diante de tantos apelos visuais.

A história talvez não faça lá tanto sentido, vista de forma linear. Todavia, o cinemão é abarrotado de ideias simplistas com inúmeras produções oferecendo as mesmas fórmulas. Na contra-mão disso, o filme de Spike Jonze nos oferece um ponto de inovação e surrealismo com toques cerebrais. O que, convenhamos, é coisa demais.

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