domingo, 23 de março de 2014

Crítica: Anticristo

O Massacre da Serra Elétrica (1974) foi um dos filmes que mais me provocou a sensação de mal-estar.

Quando o vi pela primeira vez, há alguns anos, fiquei incomodado pelo barulho da moto-serra e pelo próprio estado de espírito da produção que exalava horror e um tipo de depressão inexplicável. Fico imaginando o que se passou pela cabeça de quem viu o longa original de Tobe Hopper na sala escura do cinema.

O Anticristo (2009) do cineasta dinamarquês Lars Von Trier rivaliza com essa produção, tendo em vista o elevado grau de negatividade que o filme transpira. Toda a estrutura lembra uma opereta de horror que inicia chocando o espectador com uma cena em câmera lenta onde uma criança morre enquanto os pais (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, ambos em Ninfomaníaca) estão em plena e ardente prática sexual. 

O luto da mãe, que se sente culpada pelo acidente, é exteriorizado de forma intensa, enquanto o marido utiliza suas técnicas de terapeuta para minimizar o trauma emocional da mesma. Quando ambos se isolam numa cabana isolada na floresta é que se inicia o verdadeiro festival de horror feito com a intensidade de quem tinha o real propósito de descrever toda a negatividade que se passa no interior de uma mente combalida.

O filme é dividido em capítulos, prática típica de Lars Von Trier. E no decorrer da narrativa a situação só piora entre o casal. O longa se torna ainda mais obscuro e há apenas um raríssimo momento onde acreditamos que a situação pode vir a melhorar. No geral, a tensão só cresce e Anticristo se firma na condição de um Torture Porn poderoso com cenas amargurantes, entre as quais, a conhecida sequência de mutilação genital. 

A questão é que, enquanto muitas produções apelam naturalmente para o grotesco, ao mesmo tempo criam um clima estilizado que, de certa forma, minimizam a morbidez geral, com técnicas e clichês que confortam o espectador, demonstrando que tudo não passa de um ato ficcional. Na contra-partida, Lars Von Trier não poupa o seu público e entrega um produto doloroso de se ver e que muito se assemelha a uma espécie de tortura psicológica. 

É inegável exaltar a realização artística do filme. Anticristo alcança sua finalidade com méritos. Apesar disso, não é um produto que conseguimos assimilar facilmente. E é aquele tipo de experiência recomendável apenas aos interessados em adentrar nos meandros psicológicos de um realizador interessado em chocar e provocar axiomático sentimento de repulsa. No mais, é para se ver uma vez e, como diria o corvo de Edgar Alan Poe, "Nunca Mais!". 

Avaliação: 

Nenhum comentário: