sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Massacre da Serra Elétrica

Um filme pode causar náuseas? O Massacre da Serra Elétrica de 1974 conseguia provocar, com maestria, essa sensação. Imagino quem acompanhou o longa-metragem na tela do cinema naquela época. O zumbido mórbido da moto-serra, o visual depressivo e toda aquela angústia, ressaltando a cena em que a heroína sofria tortura psicológica, foram artifícios bem utilizados pela direção para fazer o público sentir enjôos, diante de tamanha crueldade. Em vídeo, trata-se de uma experiência bastante ruim. Obviamente, esse foi um dos motivos para que a indústria decidisse lançar esse remake, recentemente, em 2003.

É certo que voltar a mesma história é um reflexo da falta de criatividade dos produtores de cinema. Em vez de dar nova roupagem, por que não direcionar a vista para outros enredos? O que poderíamos tirar de novo de uma trama tão manjada nas conversas dos cinéfilos que curtem um bom cineminha de horror? Leatherface deveria, sim, estar sepultado nos fundos das locadoras, já que não teria uma razão mais concreta de ressuscitá-lo, a não ser arrancar as economias do público fissurado no gênero.

Entretanto, apesar dessa prévia desconfiança, esse "Massacre da Serra Elétrica", do diretor Mascus Nispel, se não chega a embrulhar como o seu antecessor, pelo menos, pode se dizer que chega a feder. Nispel aproveitou todos os arquétipos possíveis de se arrancar de um roteiro desses. Para tanto ele não poupa no visual. Dentaduras, dedos, máquinas cortantes, pele humana, além de um sótão sujo, desses que uma pessoa em sã consciência iria querer passar bem distante. Sem contar a aparência "freak" do grande vilão e sua predileção pela prática de voyeur (lembrando o Norman Bates de Anthonny Perkins, no clássico Psicose do mestre Hitchcock).

Nispel, claro, convocou um elenco jovem para bombardear de hormônios os olhos do espectador. Dando merecido realce às curvas de Jessica Biel (a mocinha). Ela e mais quatro amigos estão viajando num carro repleto de maconha e más intenções. Sua viagem é interrompida por uma andarilha que pede socorro na estrada e, mais tarde, se suicida com um tiro na boca. A câmera de Nispel aproveita bem o humor negro desse instante.

Nosso ponto-de-vista é direcionado para trás da cabeça da mulher, onde vemos o elenco pelo buraco que é feito em sua cabeça. Esse acaba sendo um mero aviso da desgraça que irá acontecer de agora em diante. A trupe decide procurar o xerife da cidade mais próxima para relatar o caso, e tirar o corpo fora. O grupo termina se separando e, um a um, Letherface demonstra sua forma peculiar de ser anfitrião. Jessica Biel recebe a missão de, aos poucos, ver seus amigos sendo destroçados numa carnificina intensa. Para piorar, cada pessoa que ela encontra pelo caminho, que poderia vir a ser um alento, termina sendo um tipo de cúmplice nessa desgraceira. O que concretiza bem a sensação de claustrofobia passada pelo longa.

Claro que é bem melhor acompanhar histórias inéditas. Revisitar franquias, por mais interessantes que estas sejam, dá mesmo essa impressão de caça-níquel. Mas, no caso desse novo "Massacre", a iniciativa pode ser considerada válida. O fillme não arrebata novas teorias sobre o caso e a idéia não vai além de mais um remake para o acervo de final de semana. Contudo, consegue brincar com o macabro e, além do mais, fazer o relógio funcionar e o tempo passar.
 
Crítica publicada no Terror 24 Horas

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